Em plena era da Inteligência Artificial, em que as inovações tecnológicas ditam o ritmo do desenvolvimento global, Mato Grosso do Sul ainda enfrenta um problema básico e inissível: o apagão digital em importantes regiões do Estado. Nesta edição, apresentamos um levantamento feito pelo deputado estadual Pedrossian Neto (PSD) que escancara a precariedade da cobertura de internet e de serviços de dados em localidades inteiras. A iniciativa, além de oportuna, é um alerta sobre um gargalo que compromete não apenas o crescimento econômico regional, mas também o o pleno à cidadania.
É legítimo – e necessário – que o parlamentar cobre respostas da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Mais do que uma questão técnica, trata-se de uma obrigação das operadoras. Elas são concessionárias de um serviço essencial, e isso impõe responsabilidades claras em relação à cobertura, à qualidade e à expansão do sinal. Não basta atender aos grandes centros urbanos; o interior também faz parte do Brasil que trabalha, consome, estuda e precisa se comunicar.
A justificativa frequentemente apresentada pelas operadoras – de que o investimento em cidades pouco populosas não se paga – até pode fazer sentido do ponto de vista mercadológico, mas não se sustenta quando se considera o caráter público da concessão. Quando uma empresa opta por atuar em um setor regulado, ela aceita também as contrapartidas. Não basta disputar as concessões nos grandes mercados; é preciso estar disposta a cumprir o dever de cobertura universal. Caso contrário, não deveriam concorrer.
Além disso, a precariedade da conexão impacta diretamente na prestação de serviços públicos e privados. A digitalização dos processos bancários, das declarações fiscais, do pagamento de tributos e mesmo do o a políticas públicas depende, hoje, de uma conexão estável. Como esperar que um produtor rural em uma região afastada consiga entregar sua documentação no prazo, se não há sequer sinal de internet onde ele vive?
A desigualdade digital é uma das mais perversas, pois acentua outras já existentes. Não ter o à internet significa também não ter o à educação a distância, a oportunidades de trabalho remoto, a canais de denúncia e até mesmo à inclusão social. Ao permitir que certas regiões fiquem à margem da conectividade, o poder público contribui para o isolamento de comunidades inteiras, como se houvesse cidadãos de segunda classe no país conectado.
A experiência recente da cidade de Bonito, que durante anos careceu de cobertura adequada de dados, é simbólica. Mesmo sendo um dos principais destinos turísticos do país, a infraestrutura digital local era insuficiente para atender sequer aos visitantes. Se uma cidade com projeção internacional ou tanto tempo ignorada, o que dizer de pequenas localidades ainda mais afastadas do mapa econômico nacional? É um problema estrutural que precisa ser enfrentado com políticas públicas e cobrança firme.
Por isso, o movimento iniciado por Pedrossian Neto deve ser ampliado e encampado por outras esferas de poder. O desenvolvimento de Mato Grosso do Sul a necessariamente pela inclusão digital de todo o seu território. Investir em conectividade não é mais um diferencial — é o mínimo esperado. A população do interior tem o direito de estar conectada, de ser atendida com dignidade e de participar, em condições de igualdade, do mundo moderno. É hora de garantir isso.