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Improviso fiscal: a deterioração da credibilidade econômica

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Nas últimas semanas, a condução da política fiscal brasileira voltou a evidenciar um padrão recorrente e profundamente nocivo: o da improvisação. Medidas com impacto direto sobre a atividade econômica e a confiança dos agentes foram apresentadas de forma abrupta, gerando um ciclo de reações negativas, recuos parciais e compensações fiscais improvisadas.

O episódio recente envolvendo a tributação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) é revelador. Após um decreto que majorava esse imposto, o governo se viu forçado a recuar diante da forte reação política e do impacto adverso sobre a economia real. A reversão parcial da medida, embora correta do ponto de vista econômico, trouxe à tona um problema crônico da gestão fiscal atual: a ausência de planejamento para garantir estabilidade e previsibilidade no regime tributário.

Em resposta à frustração de arrecadação causada pelo recuo no IOF, optou-se por lançar mão de soluções emergenciais: o aumento da carga tributária sobre Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), instrumentos isentos que desempenham papel fundamental no financiamento de dois setores essenciais; e sobre as apostas eletrônicas (bets), cuja regulamentação já estava em debate.

Essas medidas de compensação são profundamente questionáveis. No caso das LCI e das LCA, trata-se de um retrocesso na política de incentivo ao crédito de longo prazo e ao desenvolvimento de mercados de capitais voltados a setores prioritários. Penalizar tais instrumentos em um ambiente de taxa de juros elevada e baixo dinamismo do crédito representa um contrassenso, pois fragiliza a confiança dos poupadores e desincentiva a formação de poupança doméstica.

Quanto à taxação emergencial das bets, embora a necessidade de tributar adequadamente esse segmento seja legítima, utilizá-las como expediente para fechar lacunas de arrecadação criadas por um planejamento fiscal inconsistente transmite uma mensagem extremamente negativa. O sistema tributário não deve ser governado pela lógica do improviso e da busca oportunista por novas bases de incidência sempre que uma medida anterior falha.

Além disso, o anúncio vago de corte de 10% em benefícios tributários “fora da Constituição” e a promessa genérica de redução de despesas primárias sem apresentação de critérios ou estimativas detalhadas apenas agravam o ambiente de incerteza fiscal. Tais posturas reforçam a percepção de um estado cuja política econômica é reativa, fragmentada e orientada por necessidades de caixa de curtíssimo prazo.

O resultado é previsível: elevação do risco fiscal, adiamento de investimentos, deterioração da confiança dos agentes econômicos e reforço da percepção de que o arcabouço fiscal carece de credibilidade. Improviso fiscal não é política econômica. É no máximo gestão de emergência e, na prática, um fator de fragilização institucional.

Para que o País avance rumo a um ciclo sustentável de crescimento, será indispensável abandonar o padrão de remendos fiscais e adotar uma abordagem fundamentada em previsibilidade, responsabilidade e coerência tributária. Enquanto isso não ocorrer, a economia brasileira continuará prisioneira da armadilha do baixo crescimento e da alta desconfiança.

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Namorar para casar ou casar para namorar?

12/06/2025 07h45

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No imaginário tradicional, namorar é uma espécie de “ensaio geral” para o casamento. Duas pessoas se conhecem, sentem atração uma pela outra, iniciam um namoro e, com o tempo, avaliam se há compatibilidade suficiente para dar um o mais firme na direção de uma vida a dois. Esse percurso – conhecer, conviver, comprometer-se – parece linear e natural. Mas será que ele ainda é o único caminho possível?

Com as novas formas de conexão proporcionadas pela tecnologia, surgem histórias que invertem essa ordem. Imagine duas pessoas que se conhecem por um aplicativo, vivem em países diferentes e, depois de meses de conversa on-line e alguns dias intensos de convivência presencial, decidem se casar. Não para realizar um sonho romântico idealizado, mas para poderem enfim ficar juntas – e aí sim começar a namorar no dia a dia da convivência. Esse é um “casar para namorar”: o compromisso formal antecede a intimidade prática.

Ambas as trajetórias nos convidam a repensar o papel do namoro hoje. Em “Por que casamos”, afirmo que “o namoro serve para testar o quanto aquela pessoa pela qual nos sentimos atraídos pode nos completar. Serve para verificar se, de fato, temos vontade de assumir o compromisso de amar”. Em outras palavras: o namoro é uma experiência seletiva, e não só de atração, mas de convivência, afeto e responsabilidade.

No entanto, a realidade contemporânea desafia essa sequência. Relações começam à distância, avançam em ritmo acelerado, e o compromisso pode surgir antes da rotina compartilhada. Isso significa que o namoro perdeu sua função? Não, significa que ele está se transformando. Em vez de ser apenas um rito de agem antes do casamento, ele pode acontecer dentro do casamento – como uma fase de construção do vínculo, descoberta mútua e teste da convivência.

Essa mudança revela algo importante: mais que uma etapa com começo, meio e fim, o namoro é uma disposição. Um estado de abertura para o outro, de curiosidade, encantamento e cuidado. E essa disposição precisa existir tanto antes quanto depois do compromisso formal.

Casar sem nunca ter namorado é arriscado, mas também é perigoso namorar sem nunca ter assumido o compromisso de cuidar, respeitar e permanecer. Amar, afinal, é uma ação – e não uma paixão. E o amor erótico só se sustenta quando há espaço para a intimidade, a presença e a construção conjunta. Por isso, talvez a pergunta não devesse ser quando se namora, mas como se namora. E com que propósito.

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Inovação: como o Brasil pode colaborar em tempos de incerteza global?

12/06/2025 07h30

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Em um cenário em que as relações internacionais se tornam mais complexas e menos previsíveis, o Brasil tem condições de avançar em diferentes mercados. E como as organizações podem fortalecer conexões além-fronteiras? 

Nesses tempos, a resposta continua na inovação e na capacidade de simplificar processos para ganhar performance. E não faltam exemplos de que isso é possível.

A indústria de mineração, há anos no topo do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, prevê direcionar mais de US$ 10 bilhões a projetos de sustentabilidade até 2028, segundo dados do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). O volume é 62% maior do que o previsto para aplicação no intervalo de 2023 a 2027. Nesse segmento, o País se destaca na corrida de pelo menos 11 matérias-primas estratégicas para a transição energética – inclusive o lítio, tão necessário para as baterias de carros elétricos.

Por mais que as questões geopolíticas tenham ganhado espaço, as empresas brasileiras jamais podem abandonar o que está em suas mãos resolver, como a eficiência operacional. Ainda que haja inúmeros gargalos de processo a solucionar, no início deste ano, o agronegócio já previa um crescimento em 12 meses, impulsionado pela expansão das áreas de cultivo, da produção de grãos e da atividade de insumos.

Na safra 2023/2024, o Brasil, líder na produção de milho e soja, ultraou os Estados Unidos como o maior fornecedor de algodão e espera se tornar o maior vendedor de café e carnes do mundo. Segundo o estudo Radar Agtech 2024, da Embrapa, o número de incubadoras de startups do setor cresceu 224%, comparado ao ano anterior. 

Na indústria aeronáutica, que envolve altíssima tecnologia, a Eve Air Mobility, subsidiária da Embraer, é líder em encomendas de aeronaves de decolagem e aterrissagem vertical elétrica (eVTOLs) ou “carros voadores”. Entre 2021 e 2023, a participação de fontes renováveis na oferta interna de energia brasileira ou de 45% para 49%, consolidando o potencial do País para encabeçar a transição energética – a média mundial é de 14%.

Na indústria criativa, vamos além do Oscar no cinema. O Brasil é o quinto maior mercado de games em número de jogadores e representa cerca de metade das receitas na América Latina. Tornou-se o primeiro país, neste ano, a garantir em Cannes o prêmio Creative Country of the Year, em reconhecimento à sua tradição e à sua influência.

Na área financeira, com mais de 160 milhões de usuários, o Pix se tornou referência internacional em agilidade e segurança das transações. Segundo levantamento da A&S Partners, o número de fintechs no Brasil aumentou quase 80% nos últimos cinco anos. 

O setor de logística reflete o gigantismo de um território de dimensões continentais e está na base de muitos desses mercados. De modo direto, como no frete de commodities, ou indireto, como em etapas da infraestrutura para operação de meios de pagamento ou telecomunicações. As cerca de 300 logtechs do País têm promovido uma revolução digital diversificada no transporte das cargas, que a por gestão de entregas, frotas, inteligência artificial, automação, B2B, B2C, segurança, democratização do o, sustentabilidade, last mile, aumento de margens e tantas outras áreas.

O tamanho do Brasil, de sua economia e de seu mercado, aliado às alternativas que precisamos criar, abre espaço para experimentar soluções de maneira única – e não apenas na base da tentativa e do erro, mas beneficiados também pela intensidade, pela escala e pela diversidade que o País oferece como diferencial no mundo. 

Em períodos de incerteza, há ainda menos tempo para agir. É urgente pensar em como nossas maiores habilidades podem ajudar a resolver os problemas locais e os de outras nações. Respostas não faltam.

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