Se um dia estiver viajando e vir alguém em um campo aberto (de preferência no topo da montanha) correr e girar com braços abertos, pode ter certeza que na mente dessa pessoa está recriando a cena de abertura de A Noviça Rebelde (The Sound of Music), uma das mais lendárias da sétima arte, uma que foi minuciosamente cronometrada e tecnicamente inovadora para a época. Isso mesmo, em 2025, esse clássico que a de gerações em gerações completa 60 anos.
O musical, que é inspirado em uma história real e fez sucesso na Broadway antes de chegar aos cinemas une canções inesquecíveis, romance e a beleza dos Alpes austríacos.
É um dos maiores clássicos da história do cinema mundial e continua a encantar gerações, ser motivo de celebração, estudo e, claro, nostalgia. A obra dirigida por Robert Wise, com uma impressionante performance de Julie Andrews no papel de Maria von Trapp, é mais do que um filme: é um fenômeno cultural.
Baseado no livro de memórias de Maria von Trapp, a história de uma jovem noviça que traz luz e alegria à rígida família Trapp, ao mesmo tempo em que lida com o nazismo crescente na Áustria, possui uma trama repleta de música e emoções. Suas canções, como Do-Re-Mi e My Favorite Things, ficaram eternizadas e se tornaram parte do imaginário coletivo.
Mas, como toda grande produção, A Noviça Rebelde também esconde bastidores fascinantes que revelam a complexidade e as histórias por trás da magia na tela.
O Início: A Escolha do Elenco
Parece óbvio que a estrela dos musicais londrinos e na época já vencedora do Oscar, Julie Andrews, fosse Maria. Mas ela não via com bons olhos essa oportunidade justamente por considerar Maria – uma noviça e babá de órfãos – extremamente parecida com o papel que a fez uma estrela no cinema, Mary Poppins.
“Seria meu segundo papel de babá, quase logo após o primeiro”, a atriz comentou em uma entrevista em 2019 creditando à insistência de seu agente para mudar de idéia. “Arthur (Park) me encorajou muito a aceitar o trabalho”, ela disse. “E serei eternamente grata pelo empurrãozinho por cima da cerca que ele e Bob (Wise) deram a essa jovem nervosa e insegura.”
No final das contas, A Noviça Rebelde (The Sound of Music) foi uma ótima experiência para Julie que se consagrou uma esterla definitiva depois que o filme foi lançado.
Outro acerto foi a escolha de Christopher Plummer para interpretar o Capitão von Trapp, mas por muitos anos era conhecido o fato de que ele, um ator de clássicos nos palcos, não gostava de musicais e estava reticente sobre o projeto. Mas aceitou porque considerou o papel para treinar para a peça Cyranno de Bergerac, que estrelou na Broadway em seguida. Anos depois, ele reconheceu que estar nesse clássico fez toda diferença em sua carreira, se arrependendo do mau humor durante as gravações.
Os Bastidores e a Produção
Os bastidores do filme foram marcados por desafios. A direção de Robert Wise, que já era aclamado por seu trabalho em West Side Story, trouxe um equilíbrio único entre a comédia, o drama e a grandeza visual, mas o processo de filmagem não foi simples.
Embora o filme tenha sido rodado na Áustria, muitas cenas foram feitas em estúdios, o que significou uma produção detalhista para capturar a magia dos Alpes. Além disso, as canções exigiram uma preparação vocal rigorosa para todo o elenco, especialmente para Julie Andrews.
O icônico cenário da casa dos Trapp, que muitos acreditam ser real, é, na verdade, uma construção meticulosamente feita no estúdio. As cenas externas, que mostram as deslumbrantes paisagens austríacas, foram filmadas em locações em Salzburg e arredores, com a famosa cena da “Dança no campo” se tornando um dos momentos mais emblemáticos do filme.
O Legado: Música e Impacto Cultural do Filme
A Noviça Rebelde não só marcou uma geração, mas também criou um legado que perdura. O filme conquistou cinco Oscars, incluindo Melhor Filme e Melhor Direção, e continua a ser um dos mais assistidos e amados de todos os tempos. Suas canções permanecem atemporais e são revisitadas em diversos tipos de mídia, de produções teatrais a versões de outras obras.
Mesmo após seis décadas, o filme continua a fazer parte de nossa cultura, sendo transmitido durante feriados e em maratonas de TV. Sua popularidade não é apenas pelo seu valor artístico, mas pela maneira como ele toca temas universais, como família, superação e a luta contra regimes autoritários.

O Musical na Broadway
O primeiro o da história de A Noviça Rebelde foi em 1959, quando a peça da Broadway estreou. O musical foi adaptado a partir do livro The Story of the Trapp Family Singers, escrito por Maria von Trapp, a verdadeira matriarca da família Trapp, que fugiu da Áustria durante o regime nazista. No entanto, o musical de 1959 foi bem diferente do filme que viria anos depois.
A versão da Broadway foi escrita por Richard Rodgers (música) e Oscar Hammerstein II (letras), a famosa dupla responsável por outros grandes musicais como O Rei e Eu. A trama do musical de Broadway segue basicamente a história real de Maria, uma jovem noviça que é enviada para ser governanta de uma família de viúvo com sete filhos e a dupla conseguiu criar algumas das canções mais lindas para trilhar esse caminho.
A produção na Broadway tinha uma abordagem mais teatral, com a história enfatizando a luta da família Trapp contra o avanço do regime nazista, mas o foco estava muito na musicalidade e nas performances, além de incluir números como My Favorite Things, Do-Re-Mi e Climb Ev’ry Mountain.
A Apreciação do Público e da Crítica
O musical foi um sucesso instantâneo, com grandes performances e números musicais que se tornaram parte do repertório popular. A produção original, estrelada por Mary Martin no papel de Maria, foi um grande sucesso, recebendo aclamação da crítica e conquistando o público. A Noviça Rebelde esteve em cartaz por mais de 1.400 apresentações, o que fez dela uma das produções de maior sucesso da época.
Vale destacar que, na época, a Broadway já estava se tornando o centro de grandes espetáculos musicais, mas A Noviça Rebelde se destacava pela sua simplicidade e pela mensagem de otimismo, algo que ressoava com o público da época, especialmente no período pós-Segunda Guerra Mundial.
A adaptação para o palco colocou ênfase na transição de Maria de noviça para um membro essencial de uma família e, de forma simbólica, também na transformação do público por meio da música.
A Transição para o Cinema
O enorme sucesso do musical na Broadway chamou a atenção de Hollywood. A MGM adquiriu os direitos de adaptação para o cinema, e assim, o musical que encantava no palco seria transferido para as telas.
O produtor Saul Chaplin, a princípio, cogitou manter a mesma fórmula, mas foi a escolha de Robert Wise para a direção do filme que trouxe uma nova abordagem, mais focada na história de Maria e na relação com a família Trapp, além de incluir o contexto histórico da Segunda Guerra Mundial.
A adaptação para o cinema acabou sendo uma reinvenção da peça da Broadway, com uma produção mais grandiosa, cenários ao ar livre e uma Maria icônica na pele de Julie Andrews.
O impacto de seis décadas
A Noviça Rebelde é ainda hoje um dos filmes mais amados de todos os tempos e continua a ser uma das adaptações de musical mais bem-sucedidas, assim como a prova de como a magia da Broadway pode se expandir, encontrando novas formas de tocar o público, seja no palco ou na tela.
Ao completar 60 anos de seu lançamento, A Noviça Rebelde é um exemplo perfeito de como uma produção pode evoluir, se adaptar e permanecer relevante através das gerações, tanto no palco quanto na tela. É um verdadeiro legado que, através de sua música, personagens e história, nos ensina sobre a importância da família, da superação e, acima de tudo, do poder da música para transformar e inspirar.